UMA MENSAGEM DE INTOLERÂNCIA PRA LIDAR COM INTOLERANTES
(ou: as tristes subculturas do ressentimento masculino na internet e o mainstream político)
a cada aparição pública de figuras altamente constrangedoras como javier milei e elon musk, não consigo evitar ser arrebatada pelos piores sentimentos possíveis. esses dois produtores de esmegma em escala industrial não são apenas homens patéticos querendo causar por aí pra ter ganhos financeiros, prestígio social ou tentar curar a rejeição parental usando o afeto das massas. eles são o reforço positivo de uma turma que está cada vez mais confortável fora das fossas abissais da internet: as redes de supremacia e do ressentimento masculino. uma horda de covardes (sendo alguns deles literalmente terroristas domésticos e criminosos digitais) que se tornaram a linha de frente da defesa de qualquer otário da extrema-direita que apareça por aí.
se o legado político do bolsonaro foi defendido no dia 08/01 por gente que poderia facilmente estar numa caravana pra gravação do programa do ratinho ou na fila de prova de vida do inss (off: a prisão da fátima de tubarão foi um acontecimento muito especial para a nossa nação), hoje essa turminha de homens extremistas é tudo que extrema-direita queria: jovens que possivelmente foram educados politicamente pelo algoritmo do youtube e que dominam as trincheiras virtuais fazendo um cosplay de milícia neofascista pra meia dúzia de jacus.
o pouco tempo da existência das big techs, e algazarra na internet em geral, criaram um exército de jovens muito suscetíveis a qualquer discurso de ódio e totalmente engajados em pentelhar qualquer um que seja pra defender os “seus”. é um completo desastre social, porque apesar da misoginia ser o principal aspecto que inicia essa conexão, essas comunidades são um catalizador pra radicalização política devido a assombrosa e muito suspeita facilidade assimilação de praticamente qualquer discurso de ódio.
honestamente? é uma completa sacanagem e um desperdício de energia ter de lidar com problema criados por gente que possivelmente não é capaz de fazer a própria higiene pessoal ou depende de alguém pra poder fazer tarefas domésticas mais simplórias. precisamos lidar com problemas honestos, essesk várias outras do país, está há quase um mês parecendo aquele jogo do boca juniors e cúcuta na libertadores de 2007. e não é por conta de uma linda e etérea névoa, mas por conta de poluição. semanas de fumaça de queimadas não apenas aqui da região, mas, tipo, de um subcontinente inteiro. e ao invés das pautas urgentes sobre a crise climática que enfrentamos, temos que nos preocupar com um bando de zé mané defendendo a candidatura de gente escrotíssima tipo o kogos ou o marçal e outras bizarrices da política.
mas se as eleições por aqui estão especialmente deprimentes, imagina a argentina que elegeu um cara que o comportamento menos problemático dele é pedir conselhos políticos ao seu cachorro morto???? devo confessar que a eleição do milei foi um momento muito baixo até mesmo para a política argentina, reconhecidamente um completo circo de horrores. e o mais lamentável de tudo, para além do milei em si, que é uma figura tristíssima, é o surgimento de uma geração de homens muito idiotas, irresponsáveis e muito barulhentos que se interessaram pela política.
esse texto, para além de tentar mostrar o que acompanhei da eleição do milei, a relação intrínseca com essa coletividade de macho ressentido e cognitivamente comprometido por anos de uso não supervisionado de internet, é uma forma de não só exteriorizar toda a minha repulsa, mas também uma forma de lidar com a revolta de ver que um bocado de gente simplesmente sente peninha dessa galera... que eles são só gente coitada... que estão perdidos.... que eles vão se arrepender... na moralzinha? pena?
me desculpem, senhoras e senhores, mas pena temos que sentir por nós mesmos enquanto sociedade por ser obrigada a coexistir com essa galera. eles precisam ser reconhecidos pelo que são: um bando de delinquentes que deveriam estar sendo ressocializados bem longe de qualquer conexão à internet.
a misoginia como bandeira política: das cracolândias digitais ao mainstream
a ideologia da machosfera é uma bricolage pseudo-sociológica de debates online de poucas décadas que, de maneira totalmente não surpreendente, convergiram para a radicalização de uma população majoritariamente masculina e jovem. estes jovens se tornaram conhecidos pela agressividade e incivilidade em diversos ataques violentos e perseguições não apenas na esfera digital, mas também num crescente número de atos de terrorismo doméstico em várias partes do mundo. é uma turma muito heterogênea, com diversas correntes de “pensamentos“ e “filosofias“ pessoais e societárias. mas apesar de todas essas nuances, no final das contas, é só uma gentinha realmente embarcando na onda de eugenia, misoginia, racismo,conspiracionismo e reacionarismo pra poder justificar o seu “mal-estar social” numa suposta guerra cultural em que eles são os grandes oprimidos.
olha, é totalmente válido existir um mal-estar e questionar a identidade masculina contemporânea. buscar exemplos de masculinidades, discutir o papel de um homem numa sociedade em que questões de gênero, sexualidade e poder estão se transformando (btw, como sempre estiveram. aos desavisados, não é uma grande novidade na história da humanidade os grupos humanos se adaptarem e se transformarem ao longo do tempo. somos hominídeos fazendo isso há pelo menos uns quatro milhões de anos). mas, pessoalmente, é perturbador a facilidade que esse contingente decidiu aderir a uma série de pensamento totalmente extremistas só porque eles querem acreditar que são as grandes vítimas de uma sociedade muito cruel — uma sociedade que é literalmente patriarcal (????).
essa gentinha é incapaz de apreender minimamente a estrutura social em que eles mesmos vivem. são camadas de ignorância não apenas sobre si, mas uma ausência completa de capacidade de percepção comunitária e incapacidade de lidar com a mínima alteridade. não é à toa que esses babacas se fortaleceram e fortalecem a partir da união de semelhantes: eles precisam estar entre eles para poder se dar razão, ou então a fantasia e delírio não se mantém de pé por cinco segundos.
o pior de tudo, é que até faz sentido a facilidade de assimilar um discurso tão chinfrim, pois como esperar algo de bom e inspirador de uma população socializada para ser tóxica?
a forma que um homem é socializado é o terreno ideal pra criação de gente muito, muito, problemática. e digo na moralzinha mesmo, zero arrogância. inclusive, eu tenho um completo e sincero horror essa coisa essencialista da academia estadounidense que é a base de qualquer movimento identitário contemporâneo que simplifica e moraliza várias questões políticas e fenômenos sociais. não estou aqui pra falar que homens são os vilões e as mulheres as mocinhas, mas obviamente existem motivos socioculturais para que justificam de como a população masculina é mais propensa a se tornar um extremista e entusiastas de vários discurso de ódio.
essa questão da socialização masculina diz respeito a um conjunto de crenças e valores que ordena o nosso mundo social. por isso, esses grupos masculinistas são tão curiosos, porque eles estão provando apenas do próprio veneno ao se sentir oprimidos. esses homens não estão insatisfeitos pela sociedade que eles vivem; eles estão frustrados porque eles não estão no “topo hierárquico” que eles mesmo idealizaram pra poder ser escroto do jeito que eles queriam ser. pra essa gente, a opressão é não poder se comportar como o mais tóxico homem imaginável, porque eles não ocupam o espaço central de poder. essa turma se sente subalternizada ao mesmo nível dos que são “inferiores” a eles, que são: mulheres, gente da comunidade lgbqia+, pessoas racializadas, dentre outros vários grupos historicamente marginalizados.
por isso talvez seja muito difícil argumentar com qualquer um desses indivíduos, não apenas pelo radicalismo político (que talvez seja responsável pelo comprometimento intelectual e a ausência da sensatez) mas porque eles, em última instância, não estão aptos pra viver em sociedade. e longe de mim defender esses miseráveis, mas a a questão da convivência coletiva não paira apenas sobre eles, mas ao restante de uma população masculina. o problema do homem não diz respeito apenas às mulheres, mas sim com a noção básica de convivência e de respeito ao outro. porque, gente, o complexo de superioridade masculina não é só perigoso para nós mulheres, mas para os próprios homens e qualquer ser vivo (e não vivo também).
sabia que existe uma considerável parcela de homens que adquirem câncer peniano porque não param de estuprar animais? eu sei, deveriam ser todos, mas como conceber que existem animais sendo abusados sexualmente por seres humanos andando entre nós??? temos por aí um monte de homens que ejaculam em mulheres no transporte público abarrotado às sete horas da manhã. uma porção, que felizmente é uma minoria, que incapaz de usar o transporte público sem apresentar um comportamento totalmente degenerado e doentio. cadáveres sendo violados por homens, que inclusive se organizam na internet pra poder fazer isso coletivamente? e o motivo desse tipo de coisa acontecer quase exclusivamente entre homens está longe de ser uma coincidência. é uma consequência de uma socialização que dá aval para que o homem possa fazer praticamente qualquer absurdo sem enfrentar o mínimo de consequências. a falta de noção básica de comportamento e postura em relação ao outro, é o fator central para entender esse tipo de comportamento, além de um simples e muito conveniente número de CID.
e para o nosso azar, a extrema-direita contemporânea passou a instrumentalizar um leque de insatisfações masculinas frente às conquistas de grupos marginalizados que não são obrigados a lidar mais com uma diversidade de comportamentos patológicos e antissociais, tanto na vida pública e privada. com todo respeito aos homens decentes (eu sei que vocês existem, apesar de poucos), vocês não precisam chorar que nem o fiuk por ser um homem cis e hétero, mas é preciso reconhecer enfaticamente que a socialização masculina é uma tragédia e que isso está sendo potencializado e instrumentalizado politicamente e criando tragédias eleitorais, como a que eu vou falar sobre a seguir.
javier milei e o empoderamento políticos dos homens tontos
se não deixei claro em nenhum post dessa humilde newsletter, metade da minha família é argentina, e esse é basicamente o meu grande traço de personalidade. e apesar de todos os momentos muito insalubres acompanhando política argentina, de maneira totalmente involuntária, nenhum chegou perto da eleição do milei (e olha que já tivemos um presidente abandonando o cargo usando um helicóptero).
o momento mais constrangedor dessas eleições do ano passado, foi lidar com o fato de que praticamente toda a minha família votou no milei. risos. eu entendo que tá todo mundo de saco cheio e há um esgotamento do partido justicialista ou qualquer liderança minimamente progressista por conta da questão econômica. e tipo, aqui no brasil, conseguiram fazer o terror no segundo mandato da dilma por muito, muito, muito, menos. no entanto, não vou negar que no dia que ele foi eleito, dei graças a deus que meu avô já estava morto. ou que o alcoolismo dele jamais teria o deixado vivo em 2023 pra ver essa aberração política sendo eleito presidente (e ele felizmente também escapou da eleição do macri, em 2015). ele era o único peronista do meu provinciano núcleo familiar, e certamente teria se jogado da ponte posadas-encarnación pra não viver tamanha desgraça de ver um sujeito como milei se tornar presidente.
o milei, tal qual o bolsonaro, foi eleito pelas circunstâncias mais alheias do ligadas às próprias virtudes e sensibilidade política, que não precisamos fingir: é basicamente nenhuma. basta ser um entreguista, trambiqueiro, paga pau de americano e um completo anti-povo pra ficar bem na fita pra meia dúzia de parasitas do estado que compõe as nossas elites.
em relação à ascenção do milei, faz parte desse contexto, primeiramente, o enorme esforço da imprensa hegemônica em querer derrubar e/ou sabotar sem escrúpulos qualquer governo que não sejam cúmplices de vantagenzinhas fiscais e outras malandragens de colarinho branco. outro fator importante, que é uma das nossas grandes maldições enquanto latino-americanos, é ter de lidar com vale tudo dos partidos de centro e direita (já é meio que uma tradição não pensar duas vezes em dinamitar um país inteiro a apoiar candidatos minimamente democráticos).
depois das prévias, o milei deveria ter sido eleito no primeiro turno, mas não foi. o que foi um desastre pois encheu quase metade do eleitorado com o mais perigoso dos sentimentos: a esperança. houve uma mobilização enorme de tentar fazer com que o segundo turno existisse (dá pra perceber que estávamos/estamos mergulhados no subsolo da dignidade política há tempos), especialmente no reduto mais importante do justicialismo: a província de buenos aires.
o candidato do oficialismo, sérgio massa, não foi eleito no primeiro turno por pouco mais de seis pontos no primeiro turno, mesmo sem o apoio da esquerda e esquerda radical e das vertentes menos reaças do centro e da direita. nesse dia, o bunker do milei estava infestado de vermes da extrema-direita do mundo inteirinho. eles realmente acharam que já tava tudo ganho no primeiro turno. e foi muito legal ver a cara de babaca de todos no chão. o que talvez tenha sido a única alegria popular e legitima desses meses de horrores eleitorais. foi realmente uma surpresa não terem levado de primeira. e para o justicialismo, havia até um relativo otimismo de conquistar o segundo turno na raça, mas tudo foi pra puta que pariu quando os malditos das coligações de centro e direita apoiaram o milei formalmente no segundo turno.
infelizmente, essa situação não gerou uma grande comoção pra mim. estamos até meio calejados desse tipo de situação, porque, pessoalmente, isso é puro suco de américa latina. mas a grande tragédia dessas eleições, ao menos pessoalmente, foi a intensa mobilização de uma parcela da juventude masculina, que até então estava alheia à política em geral e decidiu se tornar parte muito ativa nas campanhas. eles foram completamente fisgados pela figura do milei, não só pelos “valores” que o milei supostamente carrega consigo, mas por uma espécie de encantamento besta mesmo.
se você tem a felicidade de ignorar a gênese do milei na política, infelizmente vou fazer um breve resumo para estragar o seu dia: o milei era um personalidade da televisão um tanto quanto errática. ele não só comentava a questão econômica, mas participava de programas de variedades e qualquer coisa pra estar na mídia. historicamente, ele não tinha sido parte de partido nenhum, nem um posicionamento político definido. SEQUER um time de futebol pra chamar de seu ele tinha. os princípios ideológicos do milei? todos que ele precisar pra se promover em determinada ocasião. pra ter noção, existem vídeos dele em marchas defendendo a política do que é hoje o governador peronista da província de buenos aires (axel kiciloff, que se jesus olhar pra aquela castigada nação, será o futuro presidente da argentina).
mas a virada de chavinha dele ter se tornado um quadro político diz respeito não só em relação aos grupos de telecomunicações, com o clarín, inimigos mortais (literalmente, rs) do peronismo e de qualquer setor minimamente progressista, mas também um sujeito chamado santiago caputo, que hoje é um dos seus principais assessores. pra ter noção sobre esse sujeito, esse cara há pouco tempo atrás teve uma conta de shitpost no twitter exposta com um conteúdo que faria o paulo kogos parecer o ser humano mais descolado e perspicaz do mundo. é uma mistura de fanatismo cristão, teoria conspiratória do qanon, anarcocapitalismo e tempo excessivamente gastos no reddit com homens completamente insanos.
além de mentor e guru do milei, santiago caputo (que esteticamente é cafoníssimo, todo cheio de plásticas e preenchimento, pra tentar ser ser uma espécie tommy shelby rioplatense) foi o coordenador da sua campanha eleitoral. o que faz bastante sentido, porque ele sabia o que o seu público-alvo queria. o mérito é totalmente dele por ter tornado a figura do milei de um mero economista com tempo excessivo na televisão aberta, pra ter se tornado um ídolo da garotada e não apenas o taxista reaça ou a minha avó anti-peronista.
a minha visão sobre esse caos todo, o pulo do gato dado para o apoio massivo os homens mais jovens, é que foi totalmente ideológico. em especial, o ódio por qualquer manifestação minimamente progressista, do qual a conquistas de direitos das mulheres (regulamentação do aborto) e a inserção dos lgbtq+ em cargos públicos foram grandes fatos que ajudaram a conformar uma população masculina extremamente insatisfeita com o partido peronista. a trupe de ressentidos, representados pela figura do milei, aproveitou todo esse momento pra se assumir enquanto um contingente de homens que tem essa nóia de que eles são as verdadeiras vítimas da sociedade, os verdadeiros oprimidos, os que tem uma missão de resistir às transformações sociais. não é à toa que mesmo o milei fazendo um governo ridículo em todas as dimensões possíveis (uma inflação de mais de 200% (!!!!), a destruição sem precedentes da classe média, desemprego generalizado, perda da noção básica de seguridade social) NADA IMPORTA. enquanto ele estiver compartilhando uma montagem de ia dele mesmo yassificado, enchendo o saco da querida lali espósito e viajando pra país fascista e vendendo o que resta do país, ele terá o apoio de muita gente.
tal qual os bolsonaristas, os problemas da vida material não importam o tanto quanto eles fazem parecer. a fantasia masculinista em que o milei cultiva nessa turma de fodidos, a performance se ser um grande macho alfa é suficiente — mesmo sendo um cara desagradável, horroroso, possivelmente fedido, mal-educado e que tem um provável caso amoroso com a própria irmã e precisa eventualmente contratar namoradas pra aparecer em público.
em dezembro vai completar um ano da posse e nada poderia ser pior. um ano de um desastre que a argentina claramente NÃO TINHA O LUXO DE SE DAR. e a população de ranhosos empoderados continuam na internet assediando as pessoas, criando grupos de pra perseguir mulheres, imigrantes e qualquer minorias social. esses jovens são cada vez mais os camicie nere de um governo cada vez mais autoritário e truculento.
eu, legitimamente, fico muito triste por ver gente jovem tão comprometida com a estupidez e sendo totalmente destruídos pela imbecilidade. que nem falei no início do texto, que tristeza ver a juventude nessas fitas de reacionarismo. aqui no brasil, se o marçal não for apenas um surto midiático e não for adotado pelo empresariado, ainda teremos uma chance de sobreviver a mais um ataque à juventude ou infelizmente ele vai ser uma espécie de milei para os tolos. acho que a minha única alegria nesse contexto todo é que o prazo de validade de grande parte do núcleo dos bolsonaristas radicais é bastante reduzido. são poucas eleições pra essa gente participar antes de virar necrochorume. mas os jovens (aqui e na argentina) são um problema de longo prazo. um looooooooooongo prazo.
exercendo a intolerância com intolerantes
por incrível que pareça, não vim aqui somente para reclamar. pensei em propostas. no caso, algumas formas de reabilitação da população supremacista masculinista.
cuidado com aquilo que você deseja
pra mim não há algo mais poderoso que a máxima de tratar os outros como você gostaria de ser tratado… se grupos extremistas em geral gostam muito de caçoar dos direitos humanos, acho que é totalmente legítimo que eles experimentem viver sem os direitos humanos!!!
nunca vou esquecer do vídeo de uma senhora bolsonarista reclamando das acomodações numa detenção improvisada depois de serem presos vandalizando tudo que eles puderam em brasília, no fatídico 8 de janeiro. num banheiro imundo, ela pedia com a voz embargada pela intervenção da damares e da michelle bolsonaro. ela dizia que aquilo não eram condições de tratar as pessoas. por isso, acho que foi um momento muito pedagógico pra essa turma de meia idade e idosos muito empolgados com o bolsonarismo. e nem estou falando da gente que foi pra papuda. só com essa detençãozinha, já deu tempo de valorizar algumas regras básicas da civilidade e da urbanidade em geral. é muito interessante as reações desses sujeitos vivendo em um ambiente realmente opressivo.
por isso, proponho um grande projeto sócio-pedagógico a partir do trabalho forçado que dará aos jovens fanáticos pela masculinidade tóxica um pouco de épica que eles querem tanto. sem contar que a estadia em algum lugar remoto ainda possibilite viver os discursos estranhos que eles adoram tanto?? de que são os homens que mais trabalham no mundo? que sem os homens, o mundo colapsaria? poxa, o campo de trabalho é o lugar ideal para exercer toda essa potência laboral. acho que o paulo freire escreveu muita coisa sobre a questão do aprendizado, mas talvez para alguns a pedagogia do saco de minerais pesados nas costas seja o mais recomendado mesmo.
2. uma comuna isolada exclusiva para homens
isso aqui não chega a ser uma proposta, porque ela já existe, mas é uma excelente ideia. acho que os homens frustrados com a suposta história de opressão numa sociedade patriarcal (nunca deixo de me admirar com essas palavras), deveriam viver no próprio mundo ideal: entre semelhantes. eu pessoalmente tenho uma opinião um pouco paia. pra mim, muito do discurso de ódio masculinista seria resolvida com uma prazerosa comida de rabo por um macho suado e peludo. não é uma das minhas melhores opiniões, sabe? é bastante preconceituosa, até. admito. mas também não acho que isso seja o ápice das opiniões absurdas.
eu legitimamente entendo que uma parcela considerável dos homens vivem sob o regime da heteronormatividade compulsória. estar isolado cheio de machos que nem eles, sem as amarras do mundo patriarcal possibilitaria realizar a fantasia de viver como os gregos e romanos da antiguidade: festas com muito vinho, sexo gay e provavelmente muitas guerras entre si. e como uma grande parcela de homens provam cotidianamente, que não são capazes de viver em sociedade, ganhamos muito ao não ter de viver com esses ineptos e eles ganham vivendo entre a paixão deles: homens. muitos homens.
3. minha lan house, minha vida
nessa onda de comeback dos anos 2000/10, sinto que nem todas as tendências deveriam ser celebradas. calça de cós baixo, sapato esportivo com salto, transtornos alimentares, tudo que deveria ser superado está de volta. por outro lado, as tendências tecnológicas são excelentes: telefone de flip, câmeras digitais, eletrônicos transparentes. mas sabe um elemento central da vida digital dos anos 2000 que deveria voltar? lan houses e tudo que ela nos fornecia.
além de um lugar seguro para matar aula, a lan house era um espaço de socialização menos grotesco e recreativo pra os jovens. claramente não acho que isso evitaria que as opiniões questionáveis e eventuais momentos de preconceito muito inerente a qualquer homem em espaços coletivos, por mais feministo que este seja, circulariam por aí. mas precisamos de um senso de comunidade em espaços que não sejam entre as paredes dos próprios quartos, essa gente precisa andar na rua de vez em quando, interagir com o mundo fisicamente.
o presidente lula precisa garantir que existam lan houses pra formar comunidades cujo os laços e atividades comunitárias que não envolvam fazer perseguições online ou ficar chamando a margot robbie de mid na internet. não sei vocês, mas apesar de ser alguém que tem muita repulsa pelo supremacista masculino médio, eu sei que muita gente pode ser salva se tiverem a mínima oportunidade de se integrarem a uma coletividade. não é uma solução para os mais radicais mas, definitivamente, poderia ajudar que grande parte de jovens pudessem se concentrar em algo que não seja a própria visão totalmente insana e muito burra da realidade e estrutura social como um todo. sem contar que precisamos de espaços seculares para competir com agremiações religiosas de teologia conservadora. ou seja, com uma mera lan house estamos atacando dois coelhos com uma cajadada só.